segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Qual a definição para famílias estruturadas e famílias desestruturadas?

Abaixo segue um artigo publicado na ZERO HORA do dia 18/02/2010, quinta - feira. O artigo foi publicado por Antônio Mesquita Galvão, filósofo e escritor e estas foram suas palavras.

"As pessoas se constroem na família

Não é raro se escutar que a família é construída a partir das pessoas – pais, filhos, avós, netos, sobrinhos etc. -, ligados por laços culturais, de parentesco sanguíneo ou não. Esta afirmação tem fundamento até certo ponto, pois não existe família sem pessoas. No entanto, é salutar observarmos que é a partir da família biológica, ou melhor, de sua otimização que vai começar a construção e o crescimento das pessoas. Tudo se inicia pela constatação de que a família, muitas vezes, é composta de pessoas tão desiguais, com características psicosociais díspares. O casal, por exemplo, ao criar uma família, reúne duas pessoas que têm histórias diferentes. Nesse particular a família – embora exceções – reúne aspectos constitutivos, como o afetivo, o relacional, o sociológico, o psicológico, o econômico, o cultural e o romântico. Uma família se compõe, entre outros fatores, do afetivo, do biológico e do relacional.
Quando o poeta afirma que dentre as coisas que catalisaram sua vida foi o aconchego do lar paterno, ele está afirmando a força de uma formação psicosocial que se organiza a partir de uma família bem estruturada, capaz de construir pessoas com base no amor, no respeito e na liberdade. Isto não é utopia, pois o inverso é verdadeiro, onde pessoas sem estrutura são fruto de famílias incapazes de qualquer tipo de construção afetiva. Pode haver diferenças, mas a regra é geral. O verbo que move a construção das pessoas é amor, que, como falar, caminhar e trabalhar precisa ser começado, desenvolvido. Trata-se de um verbo ativo que não admite passividade ou acomodação. De fato, amor não é só sentimento, como dizem alguns: “Eu só vou amar quando começar a sentir...”. Não! Deve-se buscar o amor a partir do primeiro passo. Se eu não começo a amar, nunca vou sentir nada.
O amor traz à construção de uma família a compreensão, o apoio, a confiança, a liberdade. Eu e minha mulher sempre dizemos que a gente “se suporta” um ao outro, não no sentido de aturar, mas de “dar suporte” nas diversas circunstâncias de nossa vida. Para que a construção seja sólida, como uma “casa sobre a rocha”, é preciso o interesse e o perdão. Não se trata de uma atitude leviana e comodista. Perdoar, do latim per donare (dar para), é dar alguma coisa a quem precisa. Se alguém me ofende, torna-se meu devedor. Quando o perdôo, a dívida fica quitada. A “matéria-prima” do perdão é o erro do outro. Porque erramos Deus nos dá seu perdão. Nesse particular, perdoar se subdivide em vários atos, como vontade, generosidade e consciência. Na busca da construção das pessoas a partir do contexto familiar, é importante sempre reconstruir (se)."

Acredito que muitas palavras ditas por ele realmente fazem sentido, mas gostaria de compartilhar o artigo para ter opiniões diversas. A realidade atual nos mostra que não existem famílias desestruturadas e sim famílias que configuram-se de formas diversas e neste contexto de desigualdades e preconceito ler que as famílias precisam ser estruturadas para ter uma formação psicossocial me pareçe que o filósofo não soube se expressar de forma concreta. O que seriam famílias estruturadas e desestruturadas?
Para ele "famílias sem estrutura são incapazes de qualquer tipo de construção afetiva". Isso seria uma forma de justificar o que a sociedade capitalista cria e recria com suas invensões globalizadas e a luta constante pelo faturamento, sem pensar nas famílias que passam dias sem um prato de comida. Isso seria dizer que estas famílias não são capazes de amar?
Acho fundamental pensarmos a sociedade a partir da lógica capitalista na qual estamos inseridos e sermos capazes de reconhecer as suas causas e não tentar justificar as incapacidades culpando as pessoas, ou intitulando-as de incapazes.

Darlene Cristina Agnoletto

2 comentários:

Andréia disse...

Importante análise, Darlene.
O que estamos vendo a todo instante é isso, a culpabilização do indivíduo, ou seja, ele é assim, porque foi incapaz de se tornar algo melhor, ou porque de alguma forma ele falhou. Apresentam um modelo padrão o qual devemos seguir, caso não estejamos enquadrados dentro deste modelo, somos considerados incapazes.
Penso, norteada pelo método materialismo histórico, que as pessoas são frutos da condição que a sociedade (o sistema em que estão inseridas)lhes impõem. Conforme Karl Marx:
“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem sob circunstâncias de sua própria escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente (...)"

Blog Visão Cultural disse...

Por famílias desestruturadas no contexto capitalista, entendo que são famílias que, a princípio, têm dificuldades materiais. Creio que seja muito mais fácil desenvolver bons valores quando se tem uma boa moradia, uma boa vizinhança, sem poluição visual ou sonora, espaços para lazer, boa prestação de serviços públicos, sobretudo, é importante renda, um pai de família bem empregado e com boa auto estima.