quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

"Medidas 'antimendigo'?

No lugar da luta por Políticas Públicas que possam dar conta desta realidade a sociedade assume um papel descriminatório,criando medidas 'antimendigos'. Uma forma de mascarar a realidade que está posta tirando da frente da porta de casa, de prédios, de órgãos públicos e particulares seres humanos que encontraram na rua um espaço de moradia. Em muitos casos não por vontade própria, mas por consequência de uma visão capitalista imposta a todos, onde os que nada tem nada são.
É mais fácil ignorar do que lutar por direitos iguais e melhores condições de vida para esta população. Mais fácil fechar portas e janelas para não ve-los dormindo na chuva, sentindo frio e não ouvir pedidos agonizantes de comida e água. Fácil assim é criar medidas como estas, impostas por seres humanos também, que pensam apenas em si prórpios e nas sua vontades.
O que salva a humanidade é que ainda existem algumas pessoas que se preocupam com o bem estar da minoria.

Darlene Cristina Agnoletto

Matéria publicada no site TERRA em 24/02/2010 às 03h42, por FRANCISCO EDSON ALVES.

Fachadas blindadas contra os mendigos

Moradores do Rio criam obstáculos à instalação de população de rua à sua porta
POR FRANCISCO EDSON ALVES

Rio - Os cariocas estão se antecipando às medidas ‘antimendigo’ da Prefeitura do Rio, que, como noticiou ontem O DIA, vem colocando pedras e grades em locais públicos para impedir a instalação de população de rua. Sem esperar que os obstáculos da Companhia de Limpeza Urbana (Comlurb) cheguem à sua porta, há quem vede com tijolo e cimento a entrada de imóvel sob risco de invasão ou instale vasos de plantas e grades pontiagudas para afastar ‘vizinhos’ indesejados.
No Edifício Praça da Cruz Vermelha, na Rua Mem de Sá, Centro, moradores espalharam 10 vasos na calçada. “Os andarilhos que ficam na praça fazem de nossas portas seus banheiros. Ninguém aguentava o mau cheiro de fezes e urina, por isso decidimos obstruir o local”, contou uma moradora, que não quis ser identificada. “Entre os mendigos, há assaltantes e viciados”, justificou.

No número 234 da mesma rua, a porta que dá acesso aos sete andares do imóvel do INSS foi fechada com tijolos e é guardada por seguranças, tudo para impedir invasão. Em julho, 20 famílias ocuparam os cômodos, esvaziados após confronto com a polícia. “Todas as manhãs, perdemos um bom tempo limpando a sujeira deixada pelos mendigos”, lamentou Emerson de Aquino, 34, gerente de lanchonete próxima.

No entorno da Rodoviária Novo Rio, no Santo Cristo, empresas de ônibus afixaram grades. Mesmo assim, moradores de rua pulam os obstáculos para dormir em canteiros. Ontem, havia jornais, cobertores e quentinhas no local. A Socicam, que administra o terminal, diz que frequentemente menores se drogam e atacam turistas e motoristas. A empresa pede aos órgãos competentes para que os moradores de rua sejam recolhidos, mas eles sempre voltam.

Ontem, agentes da Secretaria Especial da Ordem Pública acolheram 72 moradores de rua — 30 menores — na Glória, Largo do Machado, Catete, Parque do Flamengo e Praia de Botafogo. “As operações de acolhimento serão feitas constantemente. Não permitiremos que praças e vias públicas se transformem em moradia para população de rua”, afirmou o coordenador da operação, Marcelo Maywald.

Ação judicial contra as iniciativas

As polêmicas medidas ‘antimendigo’ da prefeitura, como instalação de pedras sob viadutos e obstáculos de ferro sobre bancos de praça, serão alvo de ação na Justiça. O coordenador do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos da Defensoria Pública do estado, Leonardo Rosa Melo da Cunha, estuda medida judicial para impedir a iniciativa municipal. Particulares também poderão ser alvo de processo.

Para ele, a solução é discriminatória: “As medidas são dirigidas a parcela marginalizada da sociedade, numa espécie de limpeza social. Isso fere os direitos humanos”. A Comlurb não comentou.

Disponível em: http://odia.terra.com.br/portal/rio/html/2010/2/fachadas_blindadas_contra_os_mendigos_65836.html
Acesso em 24 fev. 2010.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Qual a definição para famílias estruturadas e famílias desestruturadas?

Abaixo segue um artigo publicado na ZERO HORA do dia 18/02/2010, quinta - feira. O artigo foi publicado por Antônio Mesquita Galvão, filósofo e escritor e estas foram suas palavras.

"As pessoas se constroem na família

Não é raro se escutar que a família é construída a partir das pessoas – pais, filhos, avós, netos, sobrinhos etc. -, ligados por laços culturais, de parentesco sanguíneo ou não. Esta afirmação tem fundamento até certo ponto, pois não existe família sem pessoas. No entanto, é salutar observarmos que é a partir da família biológica, ou melhor, de sua otimização que vai começar a construção e o crescimento das pessoas. Tudo se inicia pela constatação de que a família, muitas vezes, é composta de pessoas tão desiguais, com características psicosociais díspares. O casal, por exemplo, ao criar uma família, reúne duas pessoas que têm histórias diferentes. Nesse particular a família – embora exceções – reúne aspectos constitutivos, como o afetivo, o relacional, o sociológico, o psicológico, o econômico, o cultural e o romântico. Uma família se compõe, entre outros fatores, do afetivo, do biológico e do relacional.
Quando o poeta afirma que dentre as coisas que catalisaram sua vida foi o aconchego do lar paterno, ele está afirmando a força de uma formação psicosocial que se organiza a partir de uma família bem estruturada, capaz de construir pessoas com base no amor, no respeito e na liberdade. Isto não é utopia, pois o inverso é verdadeiro, onde pessoas sem estrutura são fruto de famílias incapazes de qualquer tipo de construção afetiva. Pode haver diferenças, mas a regra é geral. O verbo que move a construção das pessoas é amor, que, como falar, caminhar e trabalhar precisa ser começado, desenvolvido. Trata-se de um verbo ativo que não admite passividade ou acomodação. De fato, amor não é só sentimento, como dizem alguns: “Eu só vou amar quando começar a sentir...”. Não! Deve-se buscar o amor a partir do primeiro passo. Se eu não começo a amar, nunca vou sentir nada.
O amor traz à construção de uma família a compreensão, o apoio, a confiança, a liberdade. Eu e minha mulher sempre dizemos que a gente “se suporta” um ao outro, não no sentido de aturar, mas de “dar suporte” nas diversas circunstâncias de nossa vida. Para que a construção seja sólida, como uma “casa sobre a rocha”, é preciso o interesse e o perdão. Não se trata de uma atitude leviana e comodista. Perdoar, do latim per donare (dar para), é dar alguma coisa a quem precisa. Se alguém me ofende, torna-se meu devedor. Quando o perdôo, a dívida fica quitada. A “matéria-prima” do perdão é o erro do outro. Porque erramos Deus nos dá seu perdão. Nesse particular, perdoar se subdivide em vários atos, como vontade, generosidade e consciência. Na busca da construção das pessoas a partir do contexto familiar, é importante sempre reconstruir (se)."

Acredito que muitas palavras ditas por ele realmente fazem sentido, mas gostaria de compartilhar o artigo para ter opiniões diversas. A realidade atual nos mostra que não existem famílias desestruturadas e sim famílias que configuram-se de formas diversas e neste contexto de desigualdades e preconceito ler que as famílias precisam ser estruturadas para ter uma formação psicossocial me pareçe que o filósofo não soube se expressar de forma concreta. O que seriam famílias estruturadas e desestruturadas?
Para ele "famílias sem estrutura são incapazes de qualquer tipo de construção afetiva". Isso seria uma forma de justificar o que a sociedade capitalista cria e recria com suas invensões globalizadas e a luta constante pelo faturamento, sem pensar nas famílias que passam dias sem um prato de comida. Isso seria dizer que estas famílias não são capazes de amar?
Acho fundamental pensarmos a sociedade a partir da lógica capitalista na qual estamos inseridos e sermos capazes de reconhecer as suas causas e não tentar justificar as incapacidades culpando as pessoas, ou intitulando-as de incapazes.

Darlene Cristina Agnoletto